As bandeiras tibetanas de oração e suas cores

Um dos elementos mais conhecidos do budismo tibetano são as bandeiras de oração. Possivelmente você já deve tê-las visto! Quanto à sua história, é dito que durante uma batalha entre dois povos, Buda recitou uma prece que foi impressa nas bandeiras de batalha. Logo em seguida, a paz entre os povos voltou a reinar.

O costume das bandeiras de oração é originário do Tibete e remonta o século XI. Foi um grande mestre indiano, Atisha (982-1054) que ensinou aos seus discípulos como imprimir orações e mantras em pedaços de tecido a partir de blocos de madeira gravados. Tradicionalmente, elas são erguidas ao ar livre para que as preces sejam levadas, “recitadas” pelo vento, espalhando benefícios para toda a humanidade.

É importante esclarecer que as bandeiras não são talismãs, nem uma superstição! Conforme dito por sua santidade Dalai Lama, o budismo há muito tempo empenha-se em compreender a natureza e funcionamento dos fenômenos. Considerando a lei do karma, todos os fenômenos são interdependentes, logo, imprimir textos sagrados com intenção pura é uma fonte de energia positiva e, consequentemente, traz diversos benefícios! Todas as nossas ações, sejam ela de corpo (forma), fala (palavra) ou mente (pensamento) são como o vento batendo nas bandeiras de oração, elas repercutem! Por isso, se nossas ações forem positivas, melhor para nós e todos os outros seres.

Vocês já devem ter notado que elas possuem cinco cores: azul, branco, vermelho, verde e amarelo. Estas cores não são aleatórias! Elas são cheias de significados e importância! Estão diretamente relacionadas às cinco sabedorias do Budismo. Antes de explicar diretamente as cores das bandeiras, é importante uma breve explicação sobre estas cinco sabedorias.

Todos nós possuímos emoções negativas ou, como chamamos no budismo, venenos mentais. Muitas vezes não os reconhecemos por estarmos muito acostumados à sua aparência de emoção. A verdadeira natureza dos cinco venenos – ignorância, apego, aversão, inveja e orgulho – são as cinco sabedorias.

Podemos utilizar diferentes métodos para trabalharmos com esses venenos, sendo que muitos deles quando trabalhados adequadamente, podem ser o remédio para cura.

Nossa mente comumente é mergulhada na dualidade, na percepção sujeito-objeto.  Portanto, nesse caso, podemos utilizar o antídoto diretamente ao veneno: um pensamento positivo quando temos um negativo, apegar-se à felicidade alheia no lugar da nossa, por exemplo.  Quando conseguimos relaxar dessa dualidade, conseguimos experimentar a verdadeira essência de uma emoção e, portanto, libertá-la.  Ou seja, seu princípio de sabedoria é revelado: o orgulho como a sabedoria da equanimidade; a inveja como a sabedoria que tudo realiza; o apego e o desejo como a sabedoria discriminativa; a raiva e aversão como a sabedoria semelhante ao espelho; e a ignorância como a sabedoria da verdadeira natureza da realidade.

Agora, vamos às bandeiras!

O Supremo Curador Vairochana – Branca

vairochana

A cor branca no Tantra simboliza o absoluto e a centralidade. Seu nome significa “Aquele que ilumina”, o que espalha luz e radiância. Nos tempos dos Vedas, Vairochana era o nome dado ao sol. Deste modo, ele é o sol espiritual do universo. A Roda do Dharma com oito raios é seu símbolo especial e é representado no mudra do girar a Roda do Dharma ou conhecido também como mudra do OK.  Vairochana está conectado ao Leão. Assim como este animal, cujo rugido proclama-o o rei da selva e que não possui medo de nenhum outro animal, a proclamação destemida que Buda faz da Verdade, torna-o governante do universo espiritual. Sua sabedoria, a do darmadatu (ou darmata), que significa a sabedoria da verdadeira natureza da realidade, purifica a ignorância, base de todo engano, emoções perturbadoras e sofrimentos. É o Buda principal, pois corporifica a paz interior e a paz no mundo. Os outros Budas são aspectos deste estado. É chefe da Família do Buddha da Roda e um dos membros mais importantes dessa família é o Bodhisattva da sabedoria transcendental, o Manjushri.

 

O Supremo curador Akshobya – Azul

akshobya

Seu nome significa “O inabalável”, qualidade representada em seu símbolo, o vajra ou raio. Ele é representado no mudra do tocar a terra, já que esse elemento é visto como o mais grosseiro e estável. Ele está conectado ao elefante, que além de ser o maior e mais forte animal, é também considerado o mais sábio. Sua sabedoria, chamada também de sabedoria do espelho, está relacionada em compreender os outros no mundo deles e não segundo o nosso. Temos que ter em mente que as pessoas estão certas dentro de seu mundo.  Quando temos a capacidade de falar dentro do mundo das pessoas, conseguimos ajudá-las em sua caminhada. Porém, quando a nossa linguagem não alcança esse objetivo, é porque nós não conseguimos falar dentro do mundo dos outros. Se pudéssemos escolher uma palavra que o represente, a mais adequada seria acolhimento. Akshobya purifica a raiva e a aversão. É o chefe da Família Vajra, que inclui outras divindades como Vajrasattva, Heruka, Hevajra, Yamantaka, Vajrapani e Guyasamadja.

 

O Supremo Curador Ratnasambhava – Amarela

ratnasambhava

“O Nascido da Joia” ou “O criador de Joias” é o significado do seu nome e sua qualidade está refletida em seu símbolo, a joia. Ele é representado com o mudra da generosidade ou da doação e está conectado ao cavalo, que de acordo com o budismo, é a corporificação da velocidade e energia, especialmente na forma prana ou respiração vital. Na arte tibetana, o cavalo normalmente é representado galopando no ar com as três joias em seu dorso. Essa representação significa que só podemos chegar à iluminação por meio da concentração e direcionamento adequado de todas nossas energias. Sua sabedoria, a da igualdade, purifica o orgulho e nos faz compreender que o que eu faço ao outro é igual para mim, é inseparável. Portanto, se o outro está feliz, eu também estarei. Ratnasambhava  representa a generosidade e é o chefe da Família da Joia que inclui Dzambala, a divindade da riqueza e a Deusa da Terra, que fornece todos os recursos da Mãe Terra.

 

O Supremo Curador Amitabha – Vermelho

amitabha

O nome Amitabha significa “Luz Infinita”. Seu símbolo é a flor de Lótus que representa o renascimento e crescimento espiritual e seu mudra é o da meditação (uma mão sobre a outra com as palmas voltadas para cima). O pavão é o animal ao qual está conectado. De acordo com algumas lendas, esse pássaro, o mais esplêndido de todos, se alimenta de plantas venenosas e as transforma. Portanto, representa a imunidade em relação aos venenos dos sentidos, das emoções e pensamentos negativos. Associado ao pôr do sol, momento do desaparecimento da luz, Amitabha não se refere à experiência de um estado de escuridão interior e sim, ao contrário: nossa luz interior aumenta à medida que temos a experiência da natureza de nossa própria consciência. Sua sabedoria discriminativa nos auxilia na compreensão da impermanência: tudo tem um ciclo de início e fim, tudo é mutável e nada permanece como está. Amitabha purifica o desejo e o apego. É o chefe da Família do Lótus que inclui Avalokitesvara, o Bodhisattva da compaixão, Kurukule, Amitayus e Padmanarteshvara.

 

O Supremo Curador Amoghasiddhi – Verde

amoghasiddhi

Seu nome significa “Sucesso Infalível” ou “Realização sem obstáculos” e possui como símbolo o vajra duplo (dois vajras cruzados). Esse símbolo é muito poderoso e representa a união dos opostos e a utilização simultânea de todas as energias do mandala dos cinco Curadores. Seu mudra aparece com muita frequência em todas as formas do budismo, especialmente nos tantras: o do destemor. Está conectado ao pássaro garuda ou “pássaro-homem”, uma criatura lendária que possui a parte superior na forma humana e os pés e asas de um pássaro. Sua sabedoria, a da causalidade, nos faz lembrar que a cada ação, existe uma reação, uma causa gerará um efeito. Esta sabedoria também pode ser considerada a da transmutação, uma vez que podemos transformar e devolver de forma positiva algo negativo que venha até nós. Para isso, podemos usar as quatro formas de ação: ação de poder – não se abalar, não se perturbar, energia constante; ação pacificadora – entender a bolha de realidade do outro, apoiar, pacificar a si mesmo entendendo melhor o outro; ação incrementadora – mostrar as qualidades do outro e sempre há e a ação irada – a partir da confiança gerada, cortar as negatividades do outro, ser enérgico, mas sem raiva ou algo contra o outro. A motivação deve ser sempre compassiva, de ajudar, de “tirar o espinho do outro”. Amoghasiddhi purifica a inveja e é o chefe da Família do Karma ou da ação, cuja divindade mais conhecida é a Tara Verde.

 

Quanto ao uso das bandeiras, é importante dizer que as bandeiras não devem ser removidas até serem trocadas por novas e, quando removidas por estarem gastas ou velhas, jamais as jogue no lixo comum: você deve queimá-las. Muitos sugerem que a cada novo ano, novas bandeiras sejam erguidas para que se crie uma interdependência com o ano que se inicia. Espero que tenham gostado do texto e que ele tenha sido útil para esclarecer alguma(s) dúvida(s).

 

Tashi Delek!

 

Artigo por Ana Caroline Nonato. 

Dicionário Budista

O budismo possui um vocabulário bastante peculiar. Para compreender os ensinamentos é necessário saber antes de tudo o que significam alguns termos que se repetem frequentemente. Portanto, vamos a um pequeno glossário com os principais termos budistas:

Anatman (Negação do Ego): um dos principais fundamentos do Budismo. Esta palavra pode também ser traduzida como “Não-alma” ou seja, algo que é destituído de espírito ou mente.  Infelizmente essa palavra é mal interpretada uma vez que para alguns significa que nada existe, mas isso não é o que o budismo ensina. Outro ponto importante é que a não compreensão deste termo fará com que você interprete mal a maioria dos ensinamentos do Buda. De acordo com esta doutrina, não há “eu” no sentido de um ser permanente, integral, autônomo dentro de uma existência individual. O que nós pensamos como nosso ego, o “eu” que habita o nosso corpo, é apenas uma experiência efêmera. Dessa forma, é mais correto dizer que há existência, porém, não da forma como estamos acostumados – self[1] e alma, e sim que embora não exista o self e a alma, ainda há vida após a morte, renascimento e proveito do karma.

Anitya (Transitoriedade ou Impermanência): outro ponto fundamental do budismo. Toda a existência e fenômenos estão em constante mudança, não são iguais mesmo que poucos segundos os separem. Tudo um dia morrerá ou acabará, e essa perspectiva é a verdadeira causa do sofrimento. Porém, é importante ressaltar que este termo não deve ser interpretado como algo pessimista e ruim. O progresso e a evolução são manifestações dessas mudanças constantes. Tudo na vida é passageiro, as alegrias, as tristezas… Como diria a sabedoria popular: “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”.

Bodhicitta (a mente de iluminação. Bodhi=iluminação, Tchitta=mente): É um estado de consciência de grande amor e compaixão, um desejo espontâneo e profundo de ser luz para os outros, liberando-os do sofrimento e guiando-os à iluminação, ou seja, atingir o estado de Buda em benefício de todos os seres sencientes (seres que possuem a capacidade de sofrer ou sentir prazer ou felicidade). Por meio do exercício da mente compassiva, se alcança a bodhicitta.

Bodhisattva (aquele que se empenha em alcançar a Iluminação): este nome foi usado para se referir a Siddharta Gautama quando ele ainda não havia alcançado a Iluminação. Posteriormente, com o surgimento do budismo mahayana, este nome passou a designar todos que se esforçavam para atingir o estado de Buda (a Iluminação, a perfeita sabedoria) seja por esforço próprio ou ao conduzirem outros ao reino de Buda por meio de sua compaixão enquanto eles próprios buscavam esse objetivo. Os Bodhisattvas mais conhecidos dentre muitos existentes são: Avalokitesvara (Kwannon), Ksitigarbha (Jizo) e Mañjusri (Mon-ju).

Buddha (o lluminado): esta palavra significa “o sábio, o iluminado”, aquele que alcançou o perfeito conhecimento da verdade e que por este motivo, libertou-se de todo e qualquer apego à existência e ensinou a todos como alcançar esta Iluminação antes de sua entrada no Nirvana. Devido à diferença dos meios de como alcançar esse estado, o budismo foi dividido em diversas seitas e escolas. No budismo mahayana, por exemplo, ao lado do Buda histórico, Sakyamuni, muitos outros budas são aceitos: Amitabha (Amida), Mahavairocana (Dainichi), Bhaisajyagur (Yakushi), entre outros. Independente da escola ou corrente seguida, o objetivo final dos budistas é se tornar um Buda.

Delusão: em sânscrito, delusão é avidia (ou Prajna – Sabedoria) ao contrário. Tecnicamente falando, delusão é quando olhamos para algo e esquecemos todas as demais, ou seja, justamente porque enxergamos, somos cegos. Este fator mental torna nossa mente agitada e fora de controle devido a essa atenção imprópria. Existem três delusões principais: ignorância, apego e aversão. Delas surgem todas as demais: medo, inveja, orgulho e arrogância, avareza, dúvida e outros.

Dharma (a verdadeira Doutrina – Preceitos éticos do budismo): são os preceitos ensinados por Buddha Shakyamuni, que inclui 84 mil métodos para revelar a verdadeira natureza da mente e atingir a Iluminação. Existem três tipos de cânones nesses ensinamentos: Sutras, o principal dharma ensinado pelo próprio Buda; Vinayas, código de disciplina dos monges transmitido por Buda e Abhidharmas, que são os comentários e discussões sobre os Sutras e Vinayas feitos pelos sábios de épocas posteriores. Estes cânones formam o que chamamos de Tripitaka. O Dharma é a segunda das Três Joias do budismo (aprofundarei sobre esse assunto em outro artigo).

Gonpa (Gompa ou gumba): É o sinônimo de mosteiro ou complexo monástico budista, especialmente budista tibetano. Esse tipo de construção é muito comum no Tibete , em outras regiões ao norte da Índia e budistas como o Butão, Nepal e partes da China. Muitas vezes esse nome se aplica a um único edifício, mas o mais comum é a utilização deste termo para nomear um conjunto de edifícios com funções de culto (templo, estupas, santuários, etc.)., residência de monges e/ou monjas, espaço de aprendizagem,  formação e sadhana, bibliotecas, entre outros.

Guru (Mestre espiritual): Ele é quem se dedica a dar ensinamentos e guiar os alunos no caminho da iluminação, ensinar métodos corretos para superação do sofrimento e aperfeiçoamento do corpo, da palavra, da mente, das qualidades e das ações. Cabe ao guru também dedicar a sua prática para o benefício de todos os seres.

Iluminação: é a libertação completa de todas as falhas e obstruções mentais nos seus diversos níveis: do mais grosseiro até o mais sutil. É o objetivo principal de todos os budistas.

Karma (ação): embora o significado original desse termo seja simplesmente “ação”, pode ser entendido como o princípio da infalibilidade de causa e efeito, ou seja, cada um dos nossos atos resulta, dependendo de sua natureza, no bem ou no mal, na felicidade ou sofrimento, influenciando nossa vida atual e as futuras. Este conceito abrange três tipos de ações: física, oral e mental. O Karma é a força que “nos obriga a nascer, mesmo que não queiramos, e a morrer, mesmo que não queiramos”. Ao se falar do ciclo de nascimento e morte, é fundamental enfatizar que não é “você” que percorre e retorna nesse ciclo, e sim o seu karma.

Lama: é o mesmo que Guru, só que em tibetano. Um lama pode ser monge ou não. Há muitos lamas do budismo tibetano que não são monges, são casados e têm cabelos longos. Um lama pode ser monge, ou seja, ter os votos de monge, e por algum motivo entregar seus votos. Mesmo não sendo mais monge, ele continua sendo lama e continuará se dedicando a dar ensinamentos.

Leigo: pessoa que estuda e pratica o budismo, porém, sem ter tomado a ordenação de monge ou monja.

Mala: chamado também de japamala, é um rosário utilizado para contar preces ou mantras. Normalmente o mala tradicional possui 108 contas, mas podemos encontrá-lo com 27 e 56 contas. Posteriormente farei um artigo explicando como utilizá-lo corretamente e o porquê das 108 contas.

Mandala: em sânscrito significa círculo ou “aquilo que circunda um centro”. É uma representação geométrica da dinâmica relação entre o homem e o universo. Também conhecida como círculo mágico ou de concentração de energia, é o símbolo da integração e da harmonia. Para o budismo, a mandala é um tipo de diagrama que simboliza uma mansão sagrada, o palácio meditacional, representando todas as qualidades iluminadas.  Cada mandala está associada a um Buda. Normalmente elas são pintadas como thangkas e representadas tridimensionalmente em madeira ou metal ou construídas com areia colorida sobre uma plataforma. Quando feita com areia, logo após algumas cerimônias, a areia é jogada em um rio, para que as bênçãos se espalhem. Desfazer a mandala serve também como exemplo de impermanência.

Mantra: esta palavra é formada por outras duas em sânscrito: Man, que significa mente e Tra, que significa proteger. Ou seja, significa literalmente “proteger a mente”.  O mantra é uma vibração sonora que, quando emitido corretamente, auxilia a desenvolver concentração e a entrar no estado de meditação. Ele sempre está relacionado com uma determinada qualidade que podemos desenvolver, como a compaixão, proteção, cura, amor, sabedoria entre outros. O mantra budista OM MANI PEME HUM, o da compaixão ilimitada, é um dos mais conhecidos.

Meditação: significa “familiarizar-se com os aspectos positivos e virtuosos da mente”. É uma técnica de treinamento da mente que nos faz enxergar o mundo de forma mais clara, ampla e auxilia a tornar a mente compassiva. A prática da meditação traz diversos benefícios como calma, serenidade, aumento da concentração e da felicidade.

Monge ou Monja: a palavra monge vem de “monos” que significa “sozinho”.  Estritamente falando, a palavra “monge” não existe no budismo. Ela é normalmente utilizada para indicar um Bhikshu, alguém que recebeu uma ordenação completa — isto é, tomou todo o conjunto de mais de duzentos votos e dedica o seu tempo principalmente à vida espiritual.

Mudra (selo): são as posições das mãos realizadas em muitas práticas budistas e de outras religiões que influenciam a energia do corpo físico, emocional e espiritual e que direcionam nossa energia interna.

Mahayana (O Grande Veículo): Ao longo do tempo da história do budismo, duas principais correntes de pensamento surgiram: Mahayana e Theravada (ou Hinayana).  O budismo mahayana espalhou-se pelo China, Coreia, Japão, o Tibete, Ásia Central, Vietnã, e de Taiwan, enquanto o theravada (veículo menor) difundiu-se por Burma, Sri Lanka, Tailândia, etc. Para o budismo do “grande veículo”, todos os seres sofrem neste mundo de nascimento e morte e que todos, sem qualquer discriminação, podem ser conduzidos à Iluminação.

Nirvana (a perfeita tranquilidade): esta palavra significa literalmente “apagar, extinguir”. Este é o estado onde se extinguem por completo todas as paixões mundanas, degradações, insatisfações, é algo fora do sofrimento. Os que alcançam esse estado são chamados de Budas. No nirvana todo o carma já foi esgotado e é o fim dos renascimentos no samsara.

Paramita (passar para a outra margem): é quando se alcança a Terra de Buda por meio da prática de várias disciplinas budistas. Para se transpor este mundo de nascimento, morte e atingir o mundo da Iluminação, é comumente usada a prática dessas seis disciplinas: caridade, moralidade, paciência, diligência, concentração e julgamento correto (ou sabedoria).

Parinirvana: é o último nirvana ou o nirvana completo que é alcançado quando se morre.

Prajna (sabedoria): é um dos seis paramitas. É a função mental que nos torna capazes a compreender sem erros na vida e a diferenciar entre o que é verdadeiro ou não. Quem adquire perfeitamente este prajna é chamado de Buda. É a mais apurada e iluminada sabedoria.

Puja: em sânscrito significa reverência, honra adoração ou culto. Puja é um ritual de preces no qual podem ou não ser feitas oferendas. É uma forma de oferecer símbolos de gratidão a Buda, ao Dharma, ou Sangha. Os pujas são realizados em templos ou em casa como práticas frequentes, e principalmente nos dias de Uposatha.

Refúgio: significa proteção e é o primeiro passo formal para entrar no caminho budista. No voto de refúgio você se compromete em seguir o exemplo do Buda, fazer a prática que leva ao resultado (ser um buda) e estudar/aplicar o dharma (ensinamentos do Buda) e participar da comunidade de praticantes (a sangha), ou seja, toma-se refúgio ou proteção nas três joias.

Rinpoche: significa “precioso” em tibetano. É um título dado aos Lamas que são reconhecidos como lamas reencarnados, que possuem grandes realizações espirituais. É a maneira de se dirigir a um Lama respeitosamente.

Samsara: é a perpétua repetição do nascimento e morte, desde o passado até o presente e o futuro ao qual os seres sencientes estão presos. É caracterizada pelo contínuo estado de sofrimento e insatisfação.  Só se consegue escapar dessa roda por meio da perfeita sabedoria, ou seja, da Iluminação.

Sangha: é uma das Três Joias do budismo. Consiste na comunidade espiritual composta pelos mestres, monges, monjas, e leigos que seguem os ensinamentos de Buddha (Buda). Inicialmente, a sangha era composta apenas por monges e freiras desabrigados. Porém, com o movimento mahayanista, todos aqueles que almejam o estado de Bodhisattva passaram a ser aceitos.

Sunyata (a não substancialidade): este conceito, um dos pontos fundamentais do budismo, significa que nada tem substância ou é permanente: tudo é desprovido de qualquer tipo de substância essencial e, por isso, tudo na realidade é “vazio”. Este termo é conhecido também como vacuidade. O Budismo afirma que uma coisa não pode existir inerentemente por si própria, ou seja, não há nenhum puro elemento permanente, como base para a existência de algo: as coisas existem por causa da sua interdependência umas das outras. Por ser um tema bastante complexo e de difícil compreensão, dedicarei um artigo específico para falar sobre a vacuidade.

Sutra (escrituras sagradas): são os tratados onde estão registrados os ensinamentos de Buda. É uma das partes do Tripitaka.

Tantra: significa “continuidade”. São textos dos ensinamentos budistas sobre as práticas do mantra secreto, proporcionando um caminho rápido para a Iluminação. Foram transmitidos de mestre para discípulo e apresentam uma ênfase em ritual, mantras e visualizações. Tantra é colocar o resultado na ação, transformar os fluxos de energia natural do nosso corpo, nos permitindo maximizar a energia que cura profundamente nosso corpo e mente.

Tashi Delek: cumprimento tibetano que significa “que tudo seja auspicioso”.

Terra Pura: também conhecida como reino puro. É a terra dos Buddhas (Budas), um ambiente puro no qual não existe sofrimento e a Iluminação é assegurada.

Thangkas: são pinturas religiosas que tiveram sua origem no Tibete no século VIII, pintadas em tecido de algodão com tintas a base de água coradas com pigmentos orgânicos e minerais fixados com goma. Para os budistas tibetanos estas pinturas religiosas oferecem uma bela manifestação do divino, sendo visualmente e mentalmente estimulante.

Theravada (ou Hinayana – os patriarcas anciãos): Thera significa anciãos. Esta escola é a dos mais velhos que, historicamente, foi um grupo de monges conservadores que seguiam os preceitos de modo leal e opunham-se a outro grupo de monges mais liberais, cujas ideias formaram o pensamento mahayana. Mahadeva, um monge progressista, insistiu sobre a livre interpretação dos sutras, o que provocou a cisão entre Theravada e Mahasamghika, que posteriormente constituiu o budismo mahayana.

Três Joias: são os objetos de refúgio de um budista – Buddha (Buda) como o mestre, Dharma como os ensinamentos e práticas e Sangha como a comunidade de praticantes.

Tripitaka (os três vasos): os três ramos das escrituras budistas (Dharma) constituem a tripitaka que são: sutras – que contém os ensinamentos de Buda; Vinayas – que contém as suas disciplinas; e Abhidharmas – que encerram vários comentários e ensaios sobre os preceitos e doutrinas budistas.

Tulku: é uma palavra tibetana que se refere à reencarnação reconhecida de um Lama que renasceu intencionalmente para beneficiar todos os seres.

Uposatha: significa “entrar para ficar”. Nesses dias, que são definidos de acordo com base no calendário lunar, os leigos usam roupas especiais (geralmente túnicas brancas) e entram nos mosteiros locais, acompanhando os monges no canto e na meditação. Com isso, os leigos podem observar outros preceitos morais, adquirindo dessa forma um mérito adicional e reforça sua prática do Dharma, seu comprometimento com o Budha e a relação com os monges.

Vajra: é uma palavra sânscrita que significa tanto “diamante” quanto “relâmpago”. É a natureza imutável do corpo, da fala e da mente. Como objeto ritual, atribui-se ao Vajra a representação da firmeza do espírito e força espiritual. Em seu centro existe uma esfera que representa a natureza primordial do universo, o vazio potencial (Sunyata). A partir dessa esfera inicial surgem, para ambos os lados, pétalas de lótus e das pétalas surgem lâminas. Para um lado, representa a iluminação (Nirvana) e, na outra direção, representa o mundo fenomênico (Samsara). Simbolicamente representa a espiritualidade e a prática.

Vajrayana: em  sânscrito e significa “veículo de diamante”. É o caminho espiritual daqueles que seguem a abordagem mahayana.

 Vinaya: é o código de disciplina para o auto treinamento deixado por Buddha para os monges e monjas. O Vinaya tem sua função central no sentido de assegurar a pureza do modo religioso de viver. Serve como antídoto para o desejo. Estes ensinamentos discutem a disciplina e a conduta ética no contexto monástico.

 Votos: é uma determinação virtuosa de abandonar determinadas falhas que consiste em um conjunto de práticas de disciplina moral que são seguidos e mantidos pelo praticante. Existem os votos monásticos, chamados de Vinaya, e os votos leigos que são “não roubar”, “não mentir”, “não matar”, “não se intoxicar”, “não ter má conduta sexual”.

Assim como tudo na vida, esse texto também é impermanente. Como o vocabulário é vasto, novos verbetes serão inseridos assim que se fizer necessário, mas não se preocupem: conforme as mudanças forem feitas aqui e as palavras surgirem nos textos, deixarei um link entre os dois para facilitar a leitura.

 

Tashi Delek!

 

 

[1] Self: Arquétipo da ordem e totalidade, abrangendo o consciente e o inconsciente, e que embora polares, não representam opostos, mas sim uma relação de complementaridade, tendo o self como mediador e gestor dos recursos e conteúdos do individuo. Segundo Jung, toda personalidade é formada a partir de um centro que é responsável por seu desenvolvimento, ou seja, o self não é apenas o ponto central, mas abarca a totalidade. Assim, o self, através dos acessos e ativações dos arquétipos, motiva a formação e desenvolvimento do ego. (Fonte: JUNG, Carl Gustav. Tipos psicológicos. Petrópolis: Vozes, 2009)

 

Artigo por Ana Caroline Nonato. 

O Budismo e a vida de Buda

O Budismo é uma religião/filosofia repleta de ensinamentos e termos específicos. Para a compreendermos é necessário que tenhamos conhecimento prévio sobre eles. Entretanto, antes de entramos no tema de modo mais específico, que trarei nos próximos textos, é necessária a compreensão do por que para uns o budismo é religião e para outros uma filosofia, e conhecer a vida do atual Buda histórico, o Sakyamuni (Śākyamuni ou Shajyamuni).

Há quem procure enfatizar e apresentar um enfoque não religioso do budismo com o objetivo de desvinculá-lo da noção de religião. O budismo tem como características importantes promover a análise crítica de suas próprias doutrinas, buscando a demonstração empírica e conclusão racional. Porém, ele está permeado por noções e elementos que são fortemente considerados religiosos, como reencarnação e fé. Por não ser teísta, diferente de todas as demais religiões, o budismo não é considerado uma religião por alguns e sim uma filosofia.

A palavra filosofia é formada por duas palavras gregas filo, que significa amor e sofia, que significa sabedoria. Deste modo, podemos dizer que filosofia é amor à sabedoria ou amor e sabedoria, sendo que ambos os significados descrevem o budismo perfeitamente, pois ele nos ensina a maneira como podemos desenvolver o potencial de nossa mente para que possamos alcançar o entendimento da realidade com clareza, mas também prega o desenvolvimento do amor e da bondade por todos os seres.

Entretanto, se olharmos de modo mais profundo, é desnecessária essa definição se é religião ou filosofia, uma vez que o budismo se nomeia como “Dharma de Buda”, ou seja, o ensinamento daquele que vê a realidade como ela é.

Agora vamos conhecer mais sobre o atual Buda histórico, o Sakyamuni. Porque Buda histórico? Primeiro ponto fundamental é saber que Buda não é um nome e sim um título que significa “aquele que sabe a verdade”. Refere-se a alguém que tenha alcançado a iluminação ou despertado por conta própria, ou seja, alcançou o nirvana, um nível superior de entendimento e deste modo não passará mais pelo ciclo dos nascimentos e mortes (samsara). Desta forma, ao longo da história do budismo houve diversos budas, antes de Buda Sakyamuni e haverá outros no futuro. Sua importância histórica deve-se ao fato dele ter sido o fundador do budismo. Ele é tido como a personificação da grande compaixão.

Os budistas acreditam que o próximo Buda será Maitreya (do sânscrito maitri, “amistosidade”) que será o responsável por renovar o atual ciclo iniciado por Sakyamuni. Estes ciclos se renovam quando os ensinamentos do Buda são esquecidos neste mundo. Maitreya está associada ao início de uma nova era onde o mundo será transformado em um paraíso.

Voltemos ao Buda Sakyamuni. Na encosta sul do Himalaia, ao longo do rio Rohini, havia uma tribo chamada de Sakya, governada pelo Rei Shuddhodana Gautama. Durante 20 anos o rei e sua esposa, Maya não tiveram filhos. Entretanto, em uma noite a rainha ficou grávida após sonhar com um elefante branco que entrou em seu ventre pela axila direita. O rei e o povo ficaram muito felizes com a notícia e esperaram ansiosamente o nascimento do príncipe. Conforme a tradição daquela época, a rainha voltou à casa paterna para dar a luz, porém, no meio do caminho ela parou para repousar em um lindo jardim. Maravilhada com as flores de Asoka, a rainha estendeu o braço direito para apanhar um ramo quando de repente deu à luz ao príncipe. Céu e terra se regozijaram com o nascimento. Era dia 8 de abril, 560 aC.

Sentindo uma profunda alegria, o rei chamou seu filho de Siddartha, que significa “todos os desejos cumpridos”.  Pouco tempo após o nascimento de Siddartha, a rainha Maya faleceu repentinamente, tomando de profunda tristeza o rei e todo o reino. O príncipe foi criado por Mahaprajapati, irmã mais nova da rainha.

Certo dia, um ermitão chamado Asita dirigiu-se até o palácio após ver um brilho ao redor do castelo, o que julgou ser um bom presságio. Ao conhecer o príncipe, o ermitão disse que caso o príncipe permanecesse no palácio após a juventude, ele se tornaria um grande rei e governaria todo o mundo. Porém, se ele abandonasse a vida palaciana e abraçasse a vida religiosa, seria um Buda, o salvador do mundo.

A princípio o rei ficou feliz com a profecia, porém, com o tempo passou a temer que seu único filho se tornasse um monge. Ao notar que o príncipe possuía pensamentos profundos sobre a existência, o rei tentou por todos os meios divertir seu filho e fazer com que seus pensamentos fossem para outras direções.

Ao completar 19 anos o rei arranjou um casamento para Siddartha com a princesa Yashodhara, sua prima, filha do irmão da falecida rainha Maya. Durante dez anos a vida do príncipe foi repleta de prazeres, música, festas, porém, sua mente continuava a questionar sobre o verdadeiro significado da vida humana.

Os pensamentos continuaram a atormentar a mente do príncipe até o nascimento de seu único filho, Rahula. Este acontecimento fez com que Siddartha abandonasse o castelo acompanhado de seu único criado atrás das respostas para sua inquietude mental.

Durante sua caminhada, muitos demônios o tentaram a retornar ao castelo, porém Siddartha soube silenciá-los, pois sabia que nada mundano jamais traria satisfação. Assim, raspou a cabeça e tornou-se um monge mendicante.

Primeiramente, Siddartha visitou três eremitas para aprender sobre práticas ascéticas e meditação. Porém, depois de praticar os ensinamentos com estes eremitas, convenceu-se que eles não poderiam conduzi-lo à iluminação. Decidiu praticar ascetismo de modo severo na floresta de Uruvela por seis anos. Durante este período, Siddartha teve cinco companheiros que o abandonaram assim que o príncipe aceitou uma xícara de leite após concluir que não havia conseguido atingir seus objetivos mesmo após as práticas. Estes companheiros viram esse ato como algo inaceitável e julgaram-no como degenerado, deixando-o à própria sorte.

Sozinho, o príncipe mesmo bastante debilitado decidiu realizar um novo período de meditação. Foi uma luta intensa! Sua mente confusa abrigou diversos pensamentos desesperados, o assédio dos demônios era intenso! Porém, de modo muito paciente e cuidadoso, Siddartha superou-os. Esta batalha foi tão intensa que Siddartha foi ao chão fraco, desnutrido e quase sem vida. Neste momento a estrela d’alva desapontou no oriente e mostrou que a luta do príncipe havia terminado. Sua mente ficou tão clara quanto o sol e ele finalmente encontrou o caminho da iluminação. Era dia 8 de dezembro e Siddartha estava com 35 anos. A partir desse momento, o príncipe passou a ser conhecido como Buda, o perfeitamente iluminado; por Sakyamuni, o sábio do clã Sakya ou por outros como o sábio do mundo.

Os primeiros discípulos do Buda Sakyamuni foram os cinco monges que o abandonaram após os seis anos na floresta. A princípio eles o evitaram, porém, após conversarem puderam ter certeza que se tratava de um Buda e passaram a segui-lo. Com o passar do tempo muitos se tornaram seguidores e fiéis, até mesmo seu pai, o rei Shuddhodana, que se tornou seu mais fiel discípulo.

Durante 45 anos Buda percorreu o país disseminando seus ensinamentos. Aos oitenta anos de idade, Buda ficou muito doente e previu sua morte dentro de três meses. Mesmo doente, bastante fraco e sofrendo, ele prosseguiu viagem até chegar à floresta de Kusinagara, onde continuou a ministrar seus ensinamentos de modo dedicado até seu último momento. Tranquilo por cumprir sua missão, o mais amável dos homens adentrou o almejado Nirvana.

O corpo de Siddartha foi cremado em Kusinagara por seus amigos seguindo a orientação de seu discípulo favorito, Ananda. As cinzas foram repartidas entre oito países.

Buda deixou 84 mil ensinamentos, sendo que cada um deles se refere a uma doença causada pelos três principais venenos da mente: ignorância, apego e raiva. Para o budismo, todos os seres tem natureza iluminada, porém, não conseguimos percebê-la devido os obscurecimentos mentais decorrentes dos sofrimentos provocados por estes venenos, pela mente não controlada e por ações ruins.

Que nossas mentes sejam livres dos venenos e que nossas ações sejam corretas!

 

Tashi Delek! (Cumprimento tibetano que significa “que tudo seja auspicioso”).

Artigo por Ana Caroline Nonato. 

A importância do caminho espiritual

Tic tac, tic tac, tic tac… Nossa vida é uma luta constante contra o relógio. Precisamos nos dividir entre diversas atividades sendo algumas prazerosas e outras nem tanto. Com o tempo cada vez mais escasso, muitos podem se perguntar: porque devo reservar parte do meu tempo para uma prática espiritual?

Para exemplificar, contarei uma lenda que gosto muito. Há muito tempo atrás um homem que vivia ao norte do Tibete juntou-se a alguns amigos e decidiu fazer uma peregrinação até a residência do Dalai Lama, o Palácio Potala em Lhasa, local considerado sagrado.

Ao chegar lá, o homem ficou maravilhado com a imponência do palácio. Por curiosidade, enfiou a cabeça em uma abertura bastante estreita para conseguir ver melhor o interior. Após algum tempo, seus amigos o chamaram para ir embora e o homem percebeu que não conseguia tirar a cabeça daquele pequeno vão.  Ao perceber que estava entalado, o homem pede para que o grupo retorne para casa sem ele e que digam a sua família que ele morreu no melhor lugar possível, o Palácio Potala. Os amigos concordaram e partem em seguida.

Pouco tempo depois, ao realizar sua ronda tradicional, o zelador do templo vê a cabeça do homem e o questiona sobre o que ele estava fazendo ali. O homem diz que está morrendo, pois sua cabeça estava entalada. O zelador pergunta como o homem colocou a cabeça naquele local. O homem explica e o zelador diz para que ele tire a cabeça do mesmo modo que a colocou. Seguindo o conselho do zelador, o homem desprende-se da fresta.

Assim como esse homem, se todos nós conseguirmos ver de que forma estamos presos, poderemos então nos libertar e auxiliar os outros a fazer o mesmo. Porém, antes de tudo, é necessário que compreendamos como nós viemos parar onde estamos.

Todos nós viemos ao mundo para sermos felizes e passamos nossa vida em busca da felicidade. Porém, embora nós a encontremos diversas vezes durante nossa vida, ela é sempre temporária. Sentimo-nos muitas vezes fracassados e questionando por muito tempo o que é felicidade e porque ela se esvai por nossas mãos. Somos como atiradores de flechas, que as lançam em alvos que acreditamos serem os corretos, mas com o tempo vemos que não passaram de ilusão. Para alcançar a felicidade, precisamos mudar o alvo: precisamos erradicar o sofrimento e o dos outros de modo definitivo.

Nossa mente é fonte tanto de sofrimento quanto de felicidade. Ela é quem nos coloca para o alto ou para baixo, como uma montanha russa. Deixamo-nos levar por seus caprichos e esquecemos que cada pensamento, palavra e ação gera uma semente ao qual colheremos no futuro seu fruto. Como a pedra que lançada ao lago produz ondulações em círculos e esses círculos ao baterem na margem voltam ao centro, assim são nossas ações. Cada ação possui uma reação. Isto é o que chamamos de carma.

Vivenciamos os resultados que nós mesmos criamos e nossas reações produzem mais causas, mais resultados, ininterruptamente… É como se nossa vida fosse uma roda movida por nossas ações e a cada reação, um novo impulso é dado. E assim se passa nossa vida em ciclos, vida após vida… O interminável samsara, a existência cíclica.

Muitas pessoas acreditam que o remédio para o sofrimento e a solução de seus problemas está nas mãos de Deus, de Buda, de Alá, em algo exterior a ela. Infelizmente não. Se você está sujo, por exemplo, e se olha em um espelho, não adianta esfregar o espelho: a sujeira permanecerá lá! Portanto, as enrascadas que estamos somos nós mesmos que entramos, portanto, cabe a nós sair delas.

Buda disse uma vez a seus discípulos: “Eu lhes mostrei o caminho que leva à felicidade. Seguir por esse caminho é algo que depende de vocês.” Desse modo, por mais que recebamos a chave do conhecimento que nos permite conhecer, transformar e ensinar nossa mente a ser usada de modo positivo, somente nós é que decidimos se esta chave será usada ou não. Essa chave, uma vez usada, abrirá uma porta onde enxergaremos a verdade mais profunda de nossa mente, expondo nossa natureza búdica (ou pureza imortal) e suas infindáveis capacidades. Quando a natureza verdadeira de nossa mente é revelada, ou seja, quando alcançamos a iluminação, podemos finalmente encontrar a felicidade duradoura e auxiliar o próximo a conseguir o mesmo. Esse é o verdadeiro objetivo do caminho espiritual.

Portanto, independente da estrada que você trilhará seu caminho espiritual, não se esqueça de enxergar a si mesmo e os outros. Quando fazemos isso, nosso coração se enche de compaixão. A compaixão nos faz valorizar cada boa situação em nossa vida e nos inspira a sermos generosos conosco e com os demais. É disso que o mundo precisa: boas ações, bons pensamentos, boas ações, amor ao próximo e compaixão. Que seu caminho seja iluminado!

Tashi Delek!

Artigo por Ana Caroline Nonato.